Trabalho Final de Sara Ferreira, Aluna do Curso Profissional de Fotografia 2016-2018 – Porto
PAISAGEM NO NEVOEIRO
Sara Ferreira
Voula: Dear father, we are writing because we have decided to come and find you. We have never seen you and we miss you. […] We don’t know what you look like. Alexander says all sorts of things. He dreams about you. […] Sometimes on my way home from school I think I hear footsteps behind me, your footsteps, and when I turn to look there’s no one. Then I feel very lonely. We don’t want to be a burden to you. We just want to get to know you and then we’ll go away again.
Topio stin omihli (1988)
Theodoros Angelopoulos
Recordo-me de ser uma criança curiosa, que se questionava, que se admirava com a beleza do mundo e com a complexidade do ser humano. Fui encontrando algumas respostas pelo caminho, mas nunca para questões tão simples quanto “Quem sou eu?” e “Qual é o sentido da vida?”. Vou vivendo com a certeza de que a resposta a estas dúvidas é como uma paisagem no nevoeiro: algo que achamos existir, algures – a paisagem –, mas que não conseguimos encontrar no meio de todo o “ruído” – o nevoeiro.
“Paisagem no nevoeiro” surge depois de Topio stin Omihli, de Theodoros Angelopoulos – o filme que conta a história de duas crianças que partem, sozinhas, para a Alemanha, numa jornada simbólica à procura do pai. Na realidade, o pai que elas achavam existir era apenas uma história construída pela mãe: uma paisagem no nevoeiro. Mas Angelopoulos procura enfatizar a jornada que os leva até à paisagem, as pessoas com quem se cruzaram durante a mesma e tudo o que pelo caminho os vai transformando. O meu trabalho é, por isso, a representação de uma viagem por entre questões de identidade, mas também por todas as coisas que me ajudam a criar respostas e por entre todas as coisas que me moldam. O processo de criação desta série é a materialização de uma construção e desconstrução metafórica, mas também literal, pela manipulação – à mão – de algumas imagens.
Nunca me senti verdadeiramente na minha pele até começar a fotografar. Um dia apresentaram-me o trabalho de Francesca Woodman e senti-me como uma criança que olha o mundo com admiração constante. “Quero fazer isto”. Os auto-retratos são a minha jornada… A minha forma de procurar; de me tornar. O projeto “paisagem no nevoeiro” nunca vai estar terminado, porque talvez – apenas talvez – o propósito em tudo isto não é o que vou encontrar no final. É a jornada em si mesma. Nalguns dias, conformo-me com essa possibilidade e sinto-me bem com isso. Mas, noutros dias, simplesmente não consigo lidar com o facto de que nunca vou saber.
Nota biográfica
Sara Ferreira, Espinho, novembro de 1994. Conclui a licenciatura em Ciências da Comunicação em 2015, na FLUP. É durante a passagem pelo ensino superior que experimenta a fotografia como força de expressão e, em 2016, ingressa no Instituto Português de Fotografia, terminando o curso profissional em 2018. A fevereiro de 2019, desenvolve um projeto em Residência Artística, em conjunto com uma bailarina, no sentido de mesclar fotografia e dança em performance.
www.saraferreirafotografia.com
instagram: @sararsferreira